Provo que a mais alta expressão da dor consiste essencialmente na alegria.
Augusto dos Anjos
País: Brasil
Tipo: Poeta
Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênesis da infância, A influência má dos signos do zodíaco.
Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.
Com um pouco de saliva quotidiana Mostro meu nojo à Natureza Humana. A podridão me serve de Evangelho... Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques E o animal inferior que urra nos bosques E com certeza meu irmão mais velho!
Não sou capaz de amar mulher alguma, o amor da humanidade é uma mentira.
Tome, Dr., esta tesoura, e... corte minha singularíssima pessoa. Que importa a mim que a bicharia roa todo o meu coração, depois da morte?!
Como um fantasma que se refugia. Na solidão da natureza morta, por trás dos ermos túmulos, um dia, eu fui refugiar-me à tua porta!
Ninguém doma um coração de poeta!
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Cansado de chorar pelas estradas. Exausto de pisar mágoas pisadas. Hoje eu carrego a cruz das minhas dores.
Para iludir a minha desgraça, estudo. Intimamente, sei que não me iludo!
Aurora ideal dos dias meus risonhos, quando, úmido de beijos em ressábios... Teu riso desponta, despertando sonhos...
A esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe a crença. Vão-se sonhos nas asas da descrença, voltam sonhos nas asas da esperança.
A infelicidade parece às vezes com a felicidade e os infelizes mostram ser felizes.
Que mal o amor me tem feito, duvidas?! Pois, se duvidas, vem cá, olha estas feridas que o amor abriu no meu peito.
O beijo, amigo, é a véspera do escarro, a mão que afaga é a mesma que apedreja.
Ah! Dentro de toda a alma existe a prova de que a dor, como um dardo, se renova quando o prazer barbaramente a ataca.
Escarrar de um abismo noutro abismo, mandando ao Céu o fumo de um cigarro, há mais filosofia neste escarro do que em toda a moral do cristianismo!
Ambiciono que o idioma em que eu te falo. Possam todas as línguas decliná-lo. Possam todos os homens compreendê-lo.
Ah! Num delíquio de ventura louca, vai-se minha alma toda nos teus beijos, ri-se o meu coração na tua boca!
Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável!
Para onde fores, Pai, para onde fores, irei também, trilhando as mesmas ruas... Tu, para amenizar as dores tuas. Eu, para amenizar as minhas dores.
O amor, poeta, é como cana azeda, a toda boca que não prova, engana.