Pensar eu que o teu destino Ligado ao meu, outro fora, Pensar que te vejo agora, Por culpa minha, infeliz; Pensar que a tua ventura Deus ab eterno a fizera, No meu caminho a pusera… E eu! eu fui que a não quis!
Gonçalves Dias
País: Brasil
Tipo: Advogado(a), Poeta
Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci: Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.
Ai! Que por isso, querida, Tenho aprendido a sofrer! Porque sei que a minha vida É também o teu viver.
Ah! Que eu não morra sem provar, ao menos sequer por um instante, nesta vida, amor igual ao meu!
Gigante orgulhoso, de fero semblante.
Se alguém se aflige de te ver chorosa, Se alguém se alegra com um sorriso teu, Se alguém suspira de te ver formosa O mar e a terra a enamorar e o céu; Se alguém definha Por amor teu, Sou eu, sou eu, sou eu!
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.
Meu Deus, Senhor meu Deus, o que há no mundo Que não seja sofrer? O homem nasce, e vive um só instante, E sofre até morrer!
Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Não chores, meu filho; Não chores, que a vida É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos Só pode exaltar.
São uns olhos verdes, verdes, Uns olhos de verde-mar, Quando o tempo vai bonança; Uns olhos cor de esperança Uns olhos por que morri; Que, ai de mi! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi!
Amar! Se te amo, não sei. Oiço aí pronunciar Essa palavra de modo Que não sei o que é amar.
Se se morre de amor! — Não, não se morre, Quando é fascinação que nos surpreende De ruidoso sarau entre os festejos; Quando luzes, calor, orquestra e flores Assomos de prazer nos raiam n´alma, Que embelezada e solta em tal ambiente No que ouve, e no que vê prazer alcança!
Vais onde te leva a sorte, Eu, onde me leva Deus: Buscas a vida, — eu a morte; Buscas a terra, — eu os céus!
O homem que é forte não teme da morte. Só teme fugir.
Saudade, ó bela flor, quando te faltem Coração ou jardim, onde tu cresças; Vem, vem ter comigo; Deixa os que te não seguem, Terás em peito amigo Lágrimas, que te reguem, Espaços, em que floresças.
Oh! Como é grande o Senhor Deus, que os mundos equilibra nos ares.
O sonho e a vida são dois galhos gêmeos; são dois irmãos que um laço amigo aperta. A noite é o laço.
Suplica a Deus comigo Que me dê uma paixão; Que me dê crença à minha alma, E vida ao meu coração.
Enquanto vais cortando o salso argento, Desta praia feliz não se desprega (Meus olhos, não, que amargo pranto os rega) Minha alma, sim, e o amor que é meu tormento.