Ontem, matou-se um doente, enforcando-se. Escrevi nas minhas notas: suicidou-se no pavilhão um doente. O dia está lindo. Se voltar a terceira vez aqui, farei o mesmo. Queira Deus que seja o dia tão belo como o de hoje.
Lima Barreto
País: Brasil
Tipo: Escritor(a), Jornalista
Não é só a morte que iguala a gente. O crime, a doença e a loucura também acabam com as diferenças que a gente inventa.
O Brasil não tem povo, tem público.
Havia-me preparado para todas as eventualidades da vida. Imaginei-me amarrado para ser fuzilado, esforçando-me para não tremer nem chorar, imaginei-me assaltado por facínoras e ter coragem par enfrentá-los, supus-me reduzido à maior miséria e a mendigar, mas por aquele transe eu jamais pensei ter de passar. Como é difícil controlar o amor.
Não pretendo fazer coisa alguma pela pátria, pela família, pela humanidade. De resto, acresce que nada sei de história social, política e intelectual do país, que nada sei de geografia, que nada entendo de ciências sociais. Vou dar um excelente deputado.
Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos.
Em vários tempos e lugares, a loucura foi considerada sagrada, e deve haver razão nisso no sentimento que se apodera de nós quando, ao vermos um louco desarrazoar, pensamos logo que já não é ele quem fala, é alguém, alguém que vê por ele, interpreta as coisas por ele, está atrás dele, invisível!
Ele alegrou os outros e nunca teve alegria.
Quem tem inimigos deve ter também bons amigos.
Não amei nunca, nem mesmo minha mulher que é morta e pela qual não tenho amor, mas remorso de não tê-la compreendido, mais devido à oclusão muda do meu orgulho intelectual; e tê-la-a amado certamente, se tão estúpido sentimento não tivesse feito passar por mim a única alma e pessoa que me podiam inspirar tão grave pensamento.
Só o álcool me dá prazer e me tenta... Oh! Meu Deus! Onde irei parar?
Poderia alongar-me mais na descrição dos doentes que me cercam. Mas a loucura tem tantos pontos de contacto de um individuo para outro, que seria arriscar tornar-me fastidioso se quisesse descrever muitos doentes.
De onde em onde, ela punha os olhos sobre mim, denotando uma grande vontade de me adivinhar, e eu fugia deles com medo de me trair.
Não se sabia onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele algum regionalismo, Quaresma era antes de tudo brasileiro.
Não somos nada nesta vida.
O football é uma escola de violência e brutalidade e não merece nenhuma proteção dos poderes públicos, a menos que estes nos queiram ensinar o assassinato.
O aparecimento de meu primeiro livro não me deu grande satisfação. Esperava que o atacassem, que me descompusessem e eu, por isso, tendo o dever de revidar, cobraria novas forças, mas tal não se deu, calaram-se uns e os que dele trataram o elogiaram. É inútil dizer que nada pedi.